Para não dizer que não falei das flores
Por Ed René Kivitz
Não se preocupem com o que
comer, beber ou vestir, mas busquem em primeiro lugar o reino de Deus e a
sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Esta recomendação de Jesus aos discípulos é geralmente interpretada como
uma declaração de Deus prometendo que os que cristãos fiéis jamais
passarão fome, sede ou frio, isto é, terão suas necessidades físicas e
materiais absolutamente supridas. Mas parece que não é só isso.
Não foram poucos os cristãos que ao
longo da história sofreram privações extremas, alguns deles justamente
porque buscaram o reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar. Ainda
hoje, temos à nossa volta centenas de milhares de cristãos vivendo na
pobreza, em condições desumanas. Muitos são perseguidos e mortos por sua
fidelidade a Jesus e ao reino de Deus. Será que todos são infiéis? Será
que Deus se esqueceu ou desistiu de cuidar deles? Há algo errado com
Deus, com os nossos irmãos, ou com a maneira como interpretamos a
promessa de Jesus? Prefiro a terceira hipótese.
Jesus quis dizer pelo menos três coisas
com sua palavra a respeito da primazia do reino de Deus. Primeiro,
deixou claro que, caso viéssemos a passar por privações, não faria
sentido imaginarmos que Deus se esqueceu de nós, pois se Ele cuida das
flores e dos passarinhos, como deixaria de cuidar dos seus filhos? A
privação se explica por outro motivo que não o abandono ou descuido de
Deus. Em segundo lugar, Jesus quis deixar claro que os cristãos não mais
se preocupam com comida, bebida e roupas, mas com o reino de Deus. Na
verdade, Jesus disse que deveríamos escolher viver para o nosso reino ou
o reino de Deus.
Finalmente, Jesus quis dizer que Deus
jamais sonegaria todas as coisas necessárias para a sobrevivência dos
seus filhos. Acontece que a promessa não é para cada cristão
individualmente, mas para os cristãos como corpo, como família, como
unidade espiritual, de modo que o não passar privações depende da
capacidade da comunidade dos discípulos repartir tudo quanto já recebeu
de Deus. O fato de um cristão passar por privação não diz nada a
respeito de Deus, mas tudo a respeito da comunidade cristã. Entre os
discípulos de Jesus “ninguém considera seu o que possui”, de modo que
“quem colhe demais não tem sobrando e quem colhe de menos não tem
faltando”, e nesse caso, quando um cristão passa fome, a comunidade está
em débito.
A questão é a seguinte: quanto mais
vivemos determinados pelo conforto material, mais indiferentes seremos
às necessidades dos outros. Quanto mais vivemos para o reino de Deus e
sua justiça, menos privações haverá ao nosso redor. Resta saber como
queremos viver: preocupados com comer, beber e vestir, ou dedicados a
promover a justiça do reino de Deus.
***
Fonte: BLog do Ed.
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