O Evangelho é Jesus
Por Ronaldo Lidório
Uma
das principais barreiras para a evangelização não é o ambiente, muitas
vezes árido para a comunicação da mensagem, mas o entendimento, por
parte da própria Igreja, quanto ao Evangelho.
Devido
a uma influência secularista, liberal e reducionista na missiologia das
últimas décadas, houve uma humanização de conceitos que necessitam de
revisão bíblica. Talvez o principal seja o próprio Evangelho. Não é
incomum lermos que “o Evangelho está sendo atacado no Egito” ou que “o Evangelho está entrando nos lugares distantes da Amazônia”.
O que se quer dizer é que a Igreja está sendo atacada e entrando na
Amazônia, manifestando que, em nossos dias, passamos a crer que a Igreja
é o Evangelho. Essa equivocada compreensão cristã que iguala o
Evangelho à Igreja - a nós mesmos - é ampla e popular, mas tem suas
raízes em distorções bíblicas e teológicas que podem nos levar a
caminhos erráticos na vida e prática cristã.
Paulo escreve aos Romanos no capítulo 1 sobre o “Evangelho de Deus” (v.1) que Deus havia prometido “pelos seus profetas nas Sagradas Escrituras” (v.2), o qual, quanto ao conteúdo, é “acerca do Seu Filho” (v.3), que é “declarado Filho de Deus em poder... Jesus Cristo, nosso Senhor” (v.4). Portanto fica claro: Jesus é o Evangelho.
Assim,
se nos envergonharmos do Evangelho, estamos nos envergonhando de Jesus.
Se deixarmos de pregar o Evangelho, deixamos de pregar Jesus. Se não
crermos no Evangelho, não cremos em Jesus. Se passarmos a questionar o
Evangelho, seus efeitos perante outras culturas e sua relevância hoje,
nós não estamos questionando uma doutrina, um movimento ou a Igreja,
estamos questionando Jesus.
O
que Paulo expressa nesse primeiro capítulo é que, apesar do pecado, do
diabo, da carne e do mundo, não estamos perdidos no universo. Há um
plano de redenção e Ele se chama Jesus. O poder de Deus se convergiu
nEle e Ele está entre nós.
Quando
compreendemos mal o Evangelho, e o igualamos à Igreja, corremos o risco
de proclamarmos denominações, igrejas locais, logomarcas e pregadores,
pensando que com isso estamos evangelizando. Não há verdadeira
evangelização sem a apresentação de Jesus Cristo, Sua vida, morte,
ressurreição e paixão por nos salvar.
Um dos textos que mais sintética e profundamente expõe o Evangelho foi escrito por Paulo quando afirmou: “Pois
não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”. (Rm 1.16).
Em
primeiro lugar, esta afirmação deixa bem claro que o Evangelho jamais
será derrotado, pois o Evangelho é Cristo. Sofrerá oposição e seus
pregadores serão perseguidos. Será questionado e deixarão de crer nEle.
Porém, nunca será vencido, pois o Evangelho vivo, que é Cristo, é o
poder de Deus.
Em
segundo lugar, o Evangelho não é o plano da Igreja para a salvação do
mundo, mas o plano de Deus para a salvação da Igreja. O que valida a
Igreja é o Evangelho, não o contrário. Se a Igreja deixa de seguir o
Evangelho, de seguir a Cristo, deixa de ser Igreja, ou Igreja de Cristo.
Em terceiro lugar, o Evangelho não deve ser apenas compreendido e vivido. Ele se manifestou entre nós para ser pregado
pelo povo de Deus. Paulo usa essa expressão diversas vezes. Aos
Romanos, ele diz que se esforça para pregar o Evangelho (Rm 15.20). Aos
Coríntios, ele diz que não foi chamado para batizar, mas para pregar o
Evangelho (1 Co 1.17). Diz também que pregar o Evangelho é sua obrigação
(1 Co 9.16).
Devemos proclamar o Evangelho – lançar as sementes – a tempo e fora de tempo. Provérbios 11 nos encoraja a lançar todas as nossas sementes, “... pela manhã, e ainda à tarde não repouses a sua mão”.
Essa expressão de intensidade e constância nos ensina que devemos
trabalhar logo cedinho – quando animados e dispostos – e quando a noite
se aproximar, o cansaço e as limitações chegarem, ainda assim não deixar
de semear. Fala-nos sobre a perseverança na caminhada e no serviço. É
preciso obedecer mesmo quando o sol se põe.
Jim Elliot, missionário entre os Auca do Equador na década de 50, afirmou que “ao chegar o dia da nossa morte, nada mais devemos ter a fazer, a não ser morrer”. Observemos nossa vida e lancemos a semente, cumprindo a missão.
Não
importa mais o que façamos em nossas iniciativas missionárias, é
preciso pregar o Evangelho. A pregação abundante do Evangelho, portanto,
não é apenas o cumprimento de uma ordem ou uma estratégia missionária,
mas o reconhecimento do poder de Deus.
Somos
lembrados por Paulo a jamais nos envergonharmos do Evangelho que um dia
nos abraçou, pois não é uma ideia ou um movimento, mas uma Pessoa, o
Evangelho é Jesus.
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