“O Senhor é o meu pastor, nada me faltará (…)” (Sl 23)
Provavelmente Davi escreveu o Salmo 23 quando ainda era pastor de ovelhas (Sl 78.70). De qualquer modo escreveu sabendo, por experiência própria, que as ovelhas são animais muito dependentes, que necessitam de um pastor, de cuidados e também de afeto. Ele tinha conhecimento de que os bons pastores devotavam real carinho e afeição às suas ovelhas.
No campo, recostado a uma árvore, olhando o rebanho e dedilhando uma harpa, o jovem pastor e poeta refletiu sobre as próprias necessidades e a maneira graciosa em que Deus cuidava dele. Então disse: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará(…) Esta é a passagem mais conhecida do Velho Testamento. Judeus e cristãos de todo o mundo a repetem sempre, sobretudo em tempos de necessidade, aflição e perigo, pois ela renova o espírito, a esperança, o ânimo…
“O SENHOR (…)”
“SENHOR” com todas as letras maiúsculas, é tradução do nome de Deus por excelência, Javé ou Jeová. Significa Eu sou o que sou, o Deus Todo-Poderoso, o Criador (Êx 3.14). Jesus, o Filho de Deus, nosso Salvador, declarou repetidas vezes: Eu sou… (Jo 6.35; 8.12; 10.9; 11.25; 14.6; 15.5). Deste modo ele se identificou como Deus, o Todo-Poderoso.
“O SENHOR é o meu Pastor (…)”
Uma coisa é admitir que Deus é o SENHOR, o Todo-Poderoso, o Alto, o Sublime, que habita a eternidade (Is 57.15); outra é acreditar que ele é também Pastor, e poder dizer: meu Pastor. Davi estava dizendo: Eu sei que Deus é SENHOR, mas sei também que Ele é Pastor, o meu Pastor! Ele se importa comigo. Ele cuida de mim!
Anos mais tarde, os adoradores de Israel adotaram o costume de entrar no templo, em Jerusalém, cantando: Celebrai com júbilo ao SENHOR… Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio(…) (Sl 100)
Pensando nas experiências como pastor, Davi passou a descrever os cuidados de Deus, o divino Pastor, com suas ovelhas, e com ele, Davi.
Pensando nas experiências como pastor, Davi passou a descrever os cuidados de Deus, o divino Pastor, com suas ovelhas, e com ele, Davi.
Nada me faltará! Meu Pastor cuida de mim…
O SENHOR é o meu Pastor, nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma(…) Geralmente as ovelhas são criadas em regiões desérticas, inóspitas, onde os pastos têm que ser procurados (Êx 3.1). As ovelhas não têm boa orientação; não sabem encontrar pastos e água. E se não estiverem alimentadas e dessedentadas, não conseguem descansar. Os bons pastores cuidam delas: levam-nas para onde há pastos verdejantes e águas; ali elas conseguem descansar.
A figura é perfeita. Nós, como ovelhas, não sabemos onde encontrar pastos verdejantes, alimento para a alma, propósito para a vida; desconhecemos onde estão as águas cristalinas e frescas. Se tentamos por nós mesmos, comemos grama ruim, ervas daninhas; bebemos água suja; ou ficamos com fome, sede, e muito agitados. Contudo, se cremos em Deus, se o temos como nosso Pastor, se lhe permitimos que nos conduza e supra nossas necessidades, ele nos leva aos pastos verdejantes, às águas de descanso.
Jesus disse: Eu sou o Bom Pastor(…) (Jo 10.14) Sua presença, seus ensinos, seus cuidados, seu Espírito são nossa direção, nosso alimento, nossa água, nosso descanso. Ele disse: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede (Jo 6.35). E também: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mt 11.28). Se confiamos em Deus e em Jesus, nada nos faltará! Isso não significa que teremos tudo que quisermos nesta vida, com ou sem trabalho.
Significa que:
- (a) Deus abençoará nosso trabalho honesto (Sl 127.1-2) e nos dará as coisas essenciais, as que são realmente necessárias, tais como comida, roupa, abrigo e as bênçãos espirituais (Mt 6. 25-34; Ef 1.3). O lazer sadio pode ser incluído; é parte do descanso. Muitas vezes Deus dá além do necessário, para nosso aprazimento, e para que também possamos dar e exercitar a generosidade (II Co 9.10,11; I Tm 6.17,18). Se não conseguimos trabalho ou se não podemos trabalhar, ele tem seus meios… Pode até fazer cair pão do céu (Êx 16.4,15).
- (b) Se Deus não nos der alguma coisa que desejamos e lhe pedimos, a razão é não ser ela necessária, ou não ser conveniente a nós e aos circunstantes.
Guia-me pelas veredas da justiça!
As ovelhas, quando entregues a si mesmas, seguem sempre pelos mesmos caminhos, pastam nos mesmos pastos, ainda que ruins. Os pastores têm de guiá-las por caminhos melhores e para os pastos verdejantes, alternando sempre, a bem dos pastos, das ovelhas e do próprio nome, ou seja, sua reputação de bom pastor. Davi tinha isso em mente quando acrescentou: Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome(…)
As veredas da justiça são os caminhos de Deus, de Cristo, do bem. Esses caminhos levam a pastos diferentes, mas sempre novos, verdejantes. O Bom Pastor prometeu: Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir(…) (Sl 32.8) Ele o faz por nós e por seu próprio nome! Quer manter sua reputação de Bom Pastor.
Não temerei mal nenhum!
A Palestina é acidentada, montanhosa. Os pastores conduziam seus rebanhos por vales e montanhas. Ao entardecer, voltando com as ovelhas, passavam por vales sombrios. Entre as rochas escondiam-se ladrões e feras. Eram vales de sombra e de morte.
Entretanto os bons pastores defendiam suas ovelhas com um bordão e um cajado. Davi arriscou certa vez a vida para salvar suas ovelhas das fauces de um leão e de um urso (I Sm 17.34-36). E Jesus disse: Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge(…) (Jo 10.11,12)
Como ovelhas do Bom Pastor, podemos dizer-lhe, como Davi, no Salmo 23: Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam (v.4).
Como ovelhas do Bom Pastor, podemos dizer-lhe, como Davi, no Salmo 23: Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam (v.4).
Éber Lenz César. Capítulo do seu livro “Passando pelo vale árido”
Fazia um bom tempo que eu não lia uma palavra tão clara sobre o salmo 23, belíssima.
ResponderExcluir