Refletindo sobre a Adoração e o Culto Cristão (I)

Por Valdeci dos Santos

Introdução


Até mesmo uma análise simples e rápida sobre o tema em foco é suficiente para convencer-nos de que a "verdadeira adoração é a mais alta e nobre atividade da qual o homem, pela graça de Deus, é capaz."1 O tema "adoração" possui profundas implicações escatológicas, pois "desde que a adoração será central na vida do céu (Ap 4.8-11; 5.9-14; 7.9-17; 11.15-18; 15.2-4 e 19.1-10), ela deve ser central na vida da igreja na terra."2 Além do mais, o puritano John Owen nos lembra que a verdadeira adoração, ainda que oferecida na terra, é conectada nos céus.3 Outro elemento de importância da adoração é resultante da aplicação da máxima cristã lex orandi, lex credendi, cuja tradução pode ser "o que se ora, é o que se crê." Segundo este princípio, adoração e teologia caminham juntas e grande parte de nossa teologia (certa ou errada), é influenciada por nossa liturgia (forma de adoração).4
Charles R. Swindoll e Mark Earey corretamente chamam nossa atenção para importantes efeitos interiores da verdadeira adoração. Swindoll relembra-nos que a adoração alarga nossos horizontes e nos descentraliza de nosso ego, enfraquece nossos temores, altera nossas perspectivas e nos mostra o lado digno do nosso trabalho diário.5 Neste sentido, Earey afirma que a adoração é potencialmente uma experiência de cura.6 Potencialmente, porque uma adoração corrompida traz mais enfermidades do que geralmente percebemos (1 Co 11.30). Finalmente, a verdadeira adoração é o objetivo e o combustível da atividade missionária.7 Ela é o objetivo no sentido de que missões almejam trazer pessoas ao regozijo e à adoração do verdadeiro Deus. Também, real comprometimento na obra missionária é fruto de um coração devotado ao Senhor. Portanto, missões começam e terminam com adoração.
Qualquer pesquisa sobre a adoração evidencia um renovado interesse neste assunto nos últimos dias.8 A grande força motora para a transferência de membros entre igrejas já não é mais o aspecto doutrinário, geográfico ou o ensino bíblico, mas o estilo de adoração e culto. Mark Earey lembra-nos que vivemos em uma cultura consumista e todos nós "assumimos que escolhemos nosso local de adoração da mesma maneira que escolhemos nosso local de compras ou de assistir a um filme…é tudo baseado nos nossos direitos ao invés de em nossas responsabilidades."9 Como resultado imediato, nada mais parece estável ou sólido em relação ao tópico da adoração cristã, mas a controvérsia domina nossa conversação sobre o assunto.10 Tudo isto nos leva a concluir que havia um elemento profético na afirmação do pastor canadense A. W. Tozer de que a verdadeira adoração "é a jóia perdida da igreja cristã."11
O presente artigo propõe uma reflexão tridimensional sobre a adoração e o culto cristão. Tal reflexão envolve:
1) uma visão geral sobre o ensinamento bíblico a respeito do assunto,
2) uma análise de alguns dos principais fatores que têm desviado o foco cristão da verdadeira adoração, e
3) uma proposta de volta aos princípios teocêntricos existentes na adoração cristã.
A pressuposição básica do autor, de que "a forma aceitável de se adorar o verdadeiro Deus é instituída por ele mesmo,"12 vem do Puritanismo inglês do século XVII. Assim, como em qualquer outro assunto relevante para a igreja cristã, o supremo juíz neste caso é o Espírito Santo falando nas Escrituras.13 Além disso, como o tema adoração é muito abrangente,14 nossa reflexão será focalizada sobre a adoração pública, ou seja, o culto cristão.
Continuação...

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