A Igreja Perseguida - Lição de cruz e ressurreição
Pastor Marco Antonio Fernandes
"Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" 2 Co 5.14,15
Todos nós precisamos da cruz. Desesperadamente, precisamos. Apesar de termos chegado aonde chegamos, estamos cada vez mais necessitados da cruz de Cristo. Muitas igrejas hoje perderam o sentido de missão. Elas precisam não do poder, do status, nem dos aplausos. Precisam, sim, de morte do ego, de cruz.
Não temos dúvidas que muitas ênfases teológicas e pastorais deixaram de afirmar a cruz em relação à ressurreição. Não se pode afirmar uma sem a outra, por um simples motivo: não foi assim que Deus enfatizou. A cruz pressupõe também a ressurreição, e o mesmo projeto nos é proposto. A cruz é a prerrogativa de uma experiência de ressurreição. E ressurreição aponta sempre para a libertação de todos os nossos medos e condicionamentos.
Precisamos meditar na realidade de que "... se um morreu por todos, logo todos morreram..." A morte com Cristo, à semelhança de sua própria morte, é uma entrega pessoal profunda. Essa entrega tem de se dar em níveis cada vez mais profundos. Morrer com Cristo é uma doação total de si. É uma profunda entrega a Deus de todo nosso ser, nosso fazer, nosso pensar. É uma entrega da existência, é uma entrega de nossos apegos, é uma entrega que desafia nossa cultura possessiva.
É por isso que a Igreja Perseguida, dos irmãos que todos os dias, "são entregues à morte por amor de Cristo", têm o que dizer à igreja contemporânea. É deles que pode vir o nosso ressurgir. É deles que deve vir o ensino do que é ser cristão. São esses irmãos que por amor a Cristo perdem tudo. Eles não fazem conta da vida, renunciam à família e, por isso não são prisioneiros. Podem ser aprisionados em cadeias, mas, como entenderam o que é a cruz de Cristo, participam de um poder que transcende as prisões. Os irmãos da Igreja Perseguida preferem a prisão e o martírio a serem entregues a tão pobres prisões a que estão sujeitos os cristãos da igreja contemporânea. No fundo, tudo é uma questão de escolhas. Pelo poder do Espírito Santo, os cristãos perseguidos optaram por um tipo de entrega que os leva à experiência de poder espiritual, o que os capacita a transcender os seus medos.
Essa é uma lição que precisamos aprender com eles. Muitas vezes nos apegamos à nossa própria imagem e, diante de qualquer tipo de agressão a ela, somos mortalmente feridos. Essa é uma triste prisão. Não é como a prisão de Pedro, em Atos capítulo 12. Ali, Pedro, prestes a morrer, na noite anterior ao seu martírio, dorme profundamente. O anjo tem de tocá-lo insistentemente para acordá-lo. Pedro, apesar de tudo, pensa estar tendo um sonho ou uma visão, tamanho o sossego de seu sono.
O mesmo não acontece com muitos de nós. Muitas vezes perdemos o sono diante de ameaças que só nos escravizam, porque não temos um nível profundo de entrega de todas as coisas a Deus. Somos tristemente possuídos por aquilo que pensamos possuir.
"O descanso de Pedro frente ao seu martírio é um símbolo do cristão que abraçou a cruz como modo de viver"
Paulo diz: "E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu". Quem não vive para si é profundamente liberto, e libertação é o poder da ressurreição operando em nós.
A Igreja Perseguida é um modelo. Ela é formada por cristãos que a tudo deixam para viver para Deus e para os irmãos. A igreja contemporânea só tem salvação se voltar seus olhos de novo para cruz, e buscar ali sua fonte de vida e inspiração.
A afirmação da cruz é também a afirmação da vida liberta. O descanso de Pedro frente ao seu martírio é um símbolo do cristão que abraçou a cruz como modo de viver. Nada temos a perder, porque nada possuímos - isso é entrega total. Isso é humildade. A Igreja Perseguida é uma igreja humilde. São irmãos e irmãs que nada possuem a não ser o amor de Jesus. É por isso que, frente às mais intensas perseguições, podem também experimentar o poder da ressurreição. Nós, nesse sentido, parecemos analfabetos. Isso porque muitas vezes demonstramos medo, desconfiança e falta fé. Tememos a perda porque às vezes duvidamos do poder consolador do Espírito Santo. Tememos a perda porque às vezes nos esquecemos que Cristo nos deu tudo. Tememos a perda de tudo porque às vezes não conseguimos acreditar que Deus basta.
A Igreja Perseguida não é uma igreja fraca, não é desamparada. É uma igreja do poder de Deus. E é o caminho que, penso eu, Deus poderá usar para trazer salvação à igreja contemporânea que se espalhou pelo mundo, mas que, em muitos casos, se aprisionou com a cultura e quase não pode mais fazer diferença na sociedade, por ter se tornado igual a ela.
"Precisamos olhar nos olhos desses irmãos para compreender profundamente o que significa a ressurreição de Cristo"
Que Deus use a coragem e a audácia dos irmãos que ousaram perder tudo por amor a Cristo. Precisamos desses irmãos para nos ensinar o que é o cristianismo que se entrega totalmente. Precisamos desses irmãos para nos apontar a cruz, mansamente como o fazem, ao mesmo tempo em que precisamos olhar nos olhos desses irmãos para compreender profundamente o que significa a ressurreição de Cristo, que foi grandemente difundida na vida de irmãos que tudo entregaram por amor a Ele.
Por fim, quero lembrar que Paulo afirma que "o amor de Cristo os constrange". Poderíamos dizer que grande parte da nossa crise é fundamentalmente uma crise do amor. Atualmente, algumas concepções de Deus são utilitaristas e individualistas. Por isso muito pouco se sabe do amor. O nível de amor comunitário vivido em comunidades de cristãos perseguidos é imensamente maior do que o que vagamente se experimenta em algumas confortáveis comunidades. O cuidado uns pelos outros, o desejo de cura e libertação das prisões, o sentimento de sofrer em comunidade, são todos conceitos que a Igreja Perseguida tem a ensinar para a Igreja Livre. Os irmãos da Igreja Perseguida sabem o valor do amor e da entrega aos irmãos. Sabem o valor do amor a Deus, que é entrega total, sabe do amor aos irmãos, que é doação para livrá-los dos sofrimentos.
Se aprendermos com a Igreja Perseguida o que é a cruz, refletiremos na sociedade a ressurreição e a alegria de viver para e com Cristo, para e com os irmãos.
Nossa cura deve vir da Igreja Perseguida. Pois é quando estamos fracos que somos fortes.
Todos nós precisamos da cruz. Desesperadamente, precisamos. Apesar de termos chegado aonde chegamos, estamos cada vez mais necessitados da cruz de Cristo. Muitas igrejas hoje perderam o sentido de missão. Elas precisam não do poder, do status, nem dos aplausos. Precisam, sim, de morte do ego, de cruz.
Não temos dúvidas que muitas ênfases teológicas e pastorais deixaram de afirmar a cruz em relação à ressurreição. Não se pode afirmar uma sem a outra, por um simples motivo: não foi assim que Deus enfatizou. A cruz pressupõe também a ressurreição, e o mesmo projeto nos é proposto. A cruz é a prerrogativa de uma experiência de ressurreição. E ressurreição aponta sempre para a libertação de todos os nossos medos e condicionamentos.
Precisamos meditar na realidade de que "... se um morreu por todos, logo todos morreram..." A morte com Cristo, à semelhança de sua própria morte, é uma entrega pessoal profunda. Essa entrega tem de se dar em níveis cada vez mais profundos. Morrer com Cristo é uma doação total de si. É uma profunda entrega a Deus de todo nosso ser, nosso fazer, nosso pensar. É uma entrega da existência, é uma entrega de nossos apegos, é uma entrega que desafia nossa cultura possessiva.
"Pelo poder do Espírito Santo, os cristãos perseguidos optaram por uma entrega que os capacita a transcender os seus medos"
É por isso que a Igreja Perseguida, dos irmãos que todos os dias, "são entregues à morte por amor de Cristo", têm o que dizer à igreja contemporânea. É deles que pode vir o nosso ressurgir. É deles que deve vir o ensino do que é ser cristão. São esses irmãos que por amor a Cristo perdem tudo. Eles não fazem conta da vida, renunciam à família e, por isso não são prisioneiros. Podem ser aprisionados em cadeias, mas, como entenderam o que é a cruz de Cristo, participam de um poder que transcende as prisões. Os irmãos da Igreja Perseguida preferem a prisão e o martírio a serem entregues a tão pobres prisões a que estão sujeitos os cristãos da igreja contemporânea. No fundo, tudo é uma questão de escolhas. Pelo poder do Espírito Santo, os cristãos perseguidos optaram por um tipo de entrega que os leva à experiência de poder espiritual, o que os capacita a transcender os seus medos.
Essa é uma lição que precisamos aprender com eles. Muitas vezes nos apegamos à nossa própria imagem e, diante de qualquer tipo de agressão a ela, somos mortalmente feridos. Essa é uma triste prisão. Não é como a prisão de Pedro, em Atos capítulo 12. Ali, Pedro, prestes a morrer, na noite anterior ao seu martírio, dorme profundamente. O anjo tem de tocá-lo insistentemente para acordá-lo. Pedro, apesar de tudo, pensa estar tendo um sonho ou uma visão, tamanho o sossego de seu sono.
O mesmo não acontece com muitos de nós. Muitas vezes perdemos o sono diante de ameaças que só nos escravizam, porque não temos um nível profundo de entrega de todas as coisas a Deus. Somos tristemente possuídos por aquilo que pensamos possuir.
"O descanso de Pedro frente ao seu martírio é um símbolo do cristão que abraçou a cruz como modo de viver"
Paulo diz: "E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu". Quem não vive para si é profundamente liberto, e libertação é o poder da ressurreição operando em nós.
A Igreja Perseguida é um modelo. Ela é formada por cristãos que a tudo deixam para viver para Deus e para os irmãos. A igreja contemporânea só tem salvação se voltar seus olhos de novo para cruz, e buscar ali sua fonte de vida e inspiração.
A afirmação da cruz é também a afirmação da vida liberta. O descanso de Pedro frente ao seu martírio é um símbolo do cristão que abraçou a cruz como modo de viver. Nada temos a perder, porque nada possuímos - isso é entrega total. Isso é humildade. A Igreja Perseguida é uma igreja humilde. São irmãos e irmãs que nada possuem a não ser o amor de Jesus. É por isso que, frente às mais intensas perseguições, podem também experimentar o poder da ressurreição. Nós, nesse sentido, parecemos analfabetos. Isso porque muitas vezes demonstramos medo, desconfiança e falta fé. Tememos a perda porque às vezes duvidamos do poder consolador do Espírito Santo. Tememos a perda porque às vezes nos esquecemos que Cristo nos deu tudo. Tememos a perda de tudo porque às vezes não conseguimos acreditar que Deus basta.
A Igreja Perseguida não é uma igreja fraca, não é desamparada. É uma igreja do poder de Deus. E é o caminho que, penso eu, Deus poderá usar para trazer salvação à igreja contemporânea que se espalhou pelo mundo, mas que, em muitos casos, se aprisionou com a cultura e quase não pode mais fazer diferença na sociedade, por ter se tornado igual a ela.
"Precisamos olhar nos olhos desses irmãos para compreender profundamente o que significa a ressurreição de Cristo"
Que Deus use a coragem e a audácia dos irmãos que ousaram perder tudo por amor a Cristo. Precisamos desses irmãos para nos ensinar o que é o cristianismo que se entrega totalmente. Precisamos desses irmãos para nos apontar a cruz, mansamente como o fazem, ao mesmo tempo em que precisamos olhar nos olhos desses irmãos para compreender profundamente o que significa a ressurreição de Cristo, que foi grandemente difundida na vida de irmãos que tudo entregaram por amor a Ele.
Por fim, quero lembrar que Paulo afirma que "o amor de Cristo os constrange". Poderíamos dizer que grande parte da nossa crise é fundamentalmente uma crise do amor. Atualmente, algumas concepções de Deus são utilitaristas e individualistas. Por isso muito pouco se sabe do amor. O nível de amor comunitário vivido em comunidades de cristãos perseguidos é imensamente maior do que o que vagamente se experimenta em algumas confortáveis comunidades. O cuidado uns pelos outros, o desejo de cura e libertação das prisões, o sentimento de sofrer em comunidade, são todos conceitos que a Igreja Perseguida tem a ensinar para a Igreja Livre. Os irmãos da Igreja Perseguida sabem o valor do amor e da entrega aos irmãos. Sabem o valor do amor a Deus, que é entrega total, sabe do amor aos irmãos, que é doação para livrá-los dos sofrimentos.
Se aprendermos com a Igreja Perseguida o que é a cruz, refletiremos na sociedade a ressurreição e a alegria de viver para e com Cristo, para e com os irmãos.
Nossa cura deve vir da Igreja Perseguida. Pois é quando estamos fracos que somos fortes.
Fonte: Portas Abertas
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