Dias e dias
Tem dias que as palavras não se completam, as frases acabam com reticências e os parágrafos perdem sentido. A gente sente uma ponta de melancolia espetando a alma. A banalidade de viver nos agride logo que tocamos o chão com os pés sonâmbulos. Tem dias que olhamos a alvorada pela janela e engasgamos com o descaso do tempo. Escovamos os dentes, repetindo com movimentos circulares, a mesma rotina de décadas; vestimos a camisa que ainda guarda o cheiro do ferro quente; cadenciamos os passos e não notamos o vai-e-vem da maré que nos devora aos poucos.
Tem dias que assumimos nossa desvalia. Sabemos, sem jamais admitir, que todos os esforços são inúteis, todas as lágrimas, desnecessárias, todas as palavras, vãs. Só a inércia nos tange adiante. Obedecemos ao dever de sobreviver sem saber o porquê.
Tem dias que acordamos e a cabeça lateja - enxaqueca existencial. Levantamos, os postes ainda iluminam as ruas, mas não os valorizamos; eles são incapazes de clarear a nossa alma. Todos os sons parecem exagerados. Todas as cores, de mau gosto. Todos os gestos, plásticos. Perdemos o paladar. Recusamos a distração. Descartamos os conselhos. Preferimos o silêncio. Buscamos o deserto.
Nesses dias, lembramos o colo primordial, que nos embalou com afeto; o rosto meigo, que nos elegeu únicos; o berço emadeirado, que nos protegeu de quedas.
Nesses dias, ficamos atentos para a inclemente cronicidade da existência. Intuimos que só os solilóquios transformam a vaga e doce tristeza em saudade. Só a solidão converte a melancolia em nostalgia. Trágicos, aprendemos a nossa impotência. Abatidos, abandonamos os fingimentos de nossas coreografias mal ensaiadas. Sedentos, ansiamos que Alguém nos dê água viva.
Soli Deo Gloria
Fonte: Ricardo Gondim
Tem dias que assumimos nossa desvalia. Sabemos, sem jamais admitir, que todos os esforços são inúteis, todas as lágrimas, desnecessárias, todas as palavras, vãs. Só a inércia nos tange adiante. Obedecemos ao dever de sobreviver sem saber o porquê.
Tem dias que acordamos e a cabeça lateja - enxaqueca existencial. Levantamos, os postes ainda iluminam as ruas, mas não os valorizamos; eles são incapazes de clarear a nossa alma. Todos os sons parecem exagerados. Todas as cores, de mau gosto. Todos os gestos, plásticos. Perdemos o paladar. Recusamos a distração. Descartamos os conselhos. Preferimos o silêncio. Buscamos o deserto.
Nesses dias, lembramos o colo primordial, que nos embalou com afeto; o rosto meigo, que nos elegeu únicos; o berço emadeirado, que nos protegeu de quedas.
Nesses dias, ficamos atentos para a inclemente cronicidade da existência. Intuimos que só os solilóquios transformam a vaga e doce tristeza em saudade. Só a solidão converte a melancolia em nostalgia. Trágicos, aprendemos a nossa impotência. Abatidos, abandonamos os fingimentos de nossas coreografias mal ensaiadas. Sedentos, ansiamos que Alguém nos dê água viva.
Soli Deo Gloria
Fonte: Ricardo Gondim
0 comentários:
Postar um comentário
Faça o seu comentário e ajude-me a conhecer sua opinião.
Volte sempre!